domingo, 28 de novembro de 2010

Hipocrisia intelectualóide carioca contemporânea

Todo mundo tão politicamente implicado via internet... Que bonitinho. O engraçado é que boa parte dessas pessoas tão indignadas e cheias de opniões sobre a situação do Rio são as mesmas que fazem piadinhas desqualificantes sobre negros, sobre nordestinos, sobre gays. Ou seja, que reproduzem a lógica de uma sub-raça, a lógica do repúdio à diversidade, que é a lógica que legitima a manutençao de um modo social no qual elas podem ter suas empregadas domésticas, dizer que estas "são da família" e vibrar com o brado uníssono de bandido bom é bandido morto.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Killing Machine

Quando cheguei ao shopping fui direto ao caixa eletrônico. Eu devia ser o quinto da fila mais ou menos. Chegou a vez de um cara que tinha por volta de trinta e seis, trinta e sete anos, semblante tenso, usava uma camisa branca, óculos, tinha barba por fazer e pele branca. Ele inseriu o cartão, esperou e nada. De novo, inseriu, esperou e... nada. Fez uma cara de “puta que pariu”, mas um “puta que pariu” contido. Recomeçou o processo. Depois de ter feito isso umas vinte vezes começou a se instalar um mal-estar entre as pessoas na fila e a sensação que eu tinha era que se ninguém fizesse nada ele ficaria tranquilamente umas duas horas ali masturbando o caixa eletrônico com aquela cara de “puta que pariu” contido.
Fui até o cara – cujas expressões de tensão à flor da pele já denunciavam a iminência da crise – e falei: “Dá licença, amigo. Já que você não está conseguindo, tem como você esperar ao lado do caixa enquanto duas pessoas tentam?”. Ao que este homenzinho respondeu em tom rude: “Meu amigo, o problema é o seguinte: não é meu cartão que está ruim é a máquina. Eu fiquei esperando vinte minutos.”.
Enquanto eu tentava propor algo próximo a um meio termo entre a vontade dele e a das pessoas na fila, ele deixava claro que se ele esperou vinte minutos todos deveriam esperar.
Depois de dizer isso, o homenzinho saiu deste caixa – que, aliás, era o único com saques disponíveis – e foi tentar tirar extrato ou algo do tipo no último caixa. Daí o próximo da fila colocou seu cartão e conseguiu sacar sem problemas. Antes de chegar a minha vez o homenzinho saiu da máquina com o semblante de quem camuflava a iminência de um enfarte ou de uma tentativa de homicídio, passou por mim, deu três tapas no meu ombro, firmes o suficiente para deixar clara sua raiva canalizada para mim, mas não o suficiente para configurar agressão, disse: “Tenta lá.”; e desceu a escada rolante.
Chegada a minha vez consegui sacar sem problemas. Desci a escada rolante, andei alguns metros e para minha surpresa vejo uma puta fila no caixa do banco 24 horas e adivinha quem estava masturbando a máquina? O homenzinho! Passei por trás dele, dei-lhe três tapinhas nas costas e disse sorrindo: “Consegui.”. Ele me lançou um olhar de ódio profundo e eu segui meu caminho pensando em como vivemos no automático a maior parte do tempo, como se as pessoas ao redor fossem apenas fantoches coadjuvantes de nossa existência com suas atuações já pré-determinadas, como se cada pessoa não fosse um universo totalmente inexplorado de onde pode surgir todo tipo de coisa.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Eternização Paliativa

Hoje re-assisti “efeito borboleta”. Inspirado pela atmosfera de volatilidade da nossa relação com o tempo, aqui estou eu na minha pseudo-eternização. Ao escrever vou me gravando no papel, me gravando no mundo, me eternizando. Deixando minha carcaça pra trás e me fixando no papel. Ilusão. Esse “me” é incapturável, é justamente essa eternefemeridade orgânica da qual a escrita não dá conta. E o acontece no papel é apenas a substancialização de um espelho paliativo diante do qual minha existência se materializa.

domingo, 1 de novembro de 2009

Eu Robô

Era uma vez um andróide pós-moderno que começando a apresentar falhas em sua programação "original" se deu conta de que não é o autômato que sempre acreditou ser. Tal qual Nietzsche com seu poderoso martelo ele demoliu violentamente masmorras e altares. E agora sem aquela armadura cartesiana que o aprisionava o que se vê é um homem, com a leveza e vulnerabilidade próprias de quem tem vísceras no lugar de engrenagens.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Criança de pelúcia

Duas mulheres e duas menininhas ao sol. Uma das menininhas, que mal sabe falar, pede para tirar o vestido (o dia está quente) e a mãe diz: "Olha a fulaninha, ela está de vestido.". Como eu queria que a criança subitamente se tornasse capaz de falar e dissesse: "Foda-se. Quem está sentindo calor sou eu.".
Para essa mãe a criança é como um relógio ou como um animal de estimação. É apenas um adorno de si, ou seja, não importa se a criança está morrendo de calor com tanto que esteja fofinha em seu vestido.

P.S.: Depois de alguns minutos as duas menininhas se amotinaram, abriram o berreiro e conseguiram ter sua reivindicação atendida.

sábado, 5 de setembro de 2009

Pra que serve?

ética-sofismo-cortical-behavior?-fundamentação-onírica-cabelos-sexo-tátil-oral-olhos-pêlos-arrepio-orgasmo.

Será que a lógica dá conta de tanto quanto imaginamos? Ou ela apenas constitui uma carapaça oca que nos impede de sentir a puerilidade de nossas certezas?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Meu momento sagrado

A felicidade transborda infinita,
me entorpece,
me atravessa,
derruba meus muros,
me vulneraliza,
me deixa à flor da pele.

Overdose de felicidade,
o sorriso mais puro banhado pelas lágrimas do âmago radiante.

É mágico,
é loucura,
avalanche de emoção,
alforria do sentir,
a magia da vida me invadindo,
é lindo.